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Wrong Turn: The Foundation - 2021


Wrong Turn (Pânico na Floresta) tem uma importância significativa para o Boca do Inferno. Lançado em 2003, foi umas das primeiras produções que abordamos no site, e também a primeira que nos fez participar de uma cabine de imprensa. O longa, dirigido por Rob Schmidt, foi o pontapé de inúmeras produções ao estilo survivor horror que foram lançadas a partir de então, como o remake de Quadrilha de Sádicos, lançado como Viagem Maldita, e sua continuação, entre outras. Mas, revendo nos dias de hoje, pode-se dizer que é um bom filme, envolto em clichês e situações óbvias, e nada mais, além dos valores adquiridos com o box office, que justifique todas as sequências, uma mais estranha e bizarra que a outra.


E, além das premissas bizarras, a franquia é lembrada pela confusão entre os títulos, devido ao oportunismo das distribuição brasileira. Logo após o lançamento do primeiro filme, a Playarte se aproveitou do título nacional para nomear o terror Timber Falls de Pânico na Floresta 2. Contudo, no mesmo ano, uma continuação oficial de Wrong Turn foi realizada, e, para evitar que existissem dois longas com o título Pânico na Floresta 2 (o próprio Pânico na Floresta já tinha um homônimo francês), a distribuidora optou por chamá-la de Floresta do Mal (Wrong Turn 2: Dead End, 2007). Só que, em 2009, surgiu uma parte 3, e ela recebeu o nome de Floresta do Mal – Caminho da Morte (Wrong Turn 3: Left for Dead, 2009). E a confusão continuou com Wrong Turn 4: Bloody Beginnings, de 2011, intitulado nacionalmente como Pânico na Floresta 4: Origens Sangrentas, que, curiosamente, não traz nenhuma floresta no enredo. Depois ainda saiu um Pânico na Floresta 5, a partir do título original Wrong Turn 5: Bloodlines, de 2012, e um Wrong Turn 6: Last Resort (2014). Conseguiu acompanhar?


Mesmo com seus defeitos técnicos e existências desnecessárias, a franquia atraiu muitos fãs, na espera de um nova aventura com pessoas deformadas torturando grupos de jovens incautos. O interesse cult é tão grande que, ainda que não tenha sido feita uma sétima parte, você consegue encontrar trailers falsos, criados por fãs, além de fanfics que abordam ideias para um novo filme. Talvez para estes, o anúncio de um Wrong Turn reboot tenha sido uma perspectiva animadora, uma possibilidade de mais sangue em profusão, gore e desespero em alguma floresta escura. O anúncio oficial de um remake foi feito em 2018: teria a direção de Mike P. Nelson, a partir de um roteiro escrito por Alan B. McElroy, autor do argumento do primeiro filme. E foi exatamente a mudança de tom que fez com que o cineasta topasse assumir o projeto.

Eu estava totalmente preparado na primeira leitura para ser lançado em um mundo louco e devastador de canibais comendo carne humana e dividindo as pessoas ao meio. Quando isso não aconteceu, fiquei agradavelmente surpreso. Havia algo mais no cerne da história que me pegou.“, revelou Mike P. Nelson ao Fangoria. Se para ele isso foi um alento, para os fãs da base original, não. As primeiras reações do público ao novo Wrong Turn foram bastante negativas pelo que se esperava: cadê o Three Finger? Por que o trailer oficial está escondendo pessoas sendo comidas por criaturas deformadas e imortais? A resposta é simples: esqueça em absoluto o que você viu até então. A versão 2021 é completamente diferente. Isso não quer dizer que seja ruim.


No enredo, um grupo de amigos de Nova Iorque – Jen Shaw (Charlotte Vega) e o namorado Darius (Adain Bradley), além dos casal Adam (Dylan McTee) e Milla (Emma Dumont), e Gary (Vardaan Arora) e Luis (Adrian Favela) – está em um passeio na zona rural da Virgínia para seguir a Trilha dos Apaches, famosa na região. Em um bar, são alertados pelos residentes sobre os riscos de “sair da trilha“, algo que remete ao episódio que acometeu os rapazes de Um Lobisomem Americano em Londres. Pouco antes de partir, Jen também conhece duas locais, Edith (Daisy Head) e sua filha muda Ruthie (Rhyan Elizabeth Hanavan), o que gera um desconforto pelas reações estranhas.

Eles seguem o percurso até certo ponto, quando são incentivados por Darius a buscar um local paradisíaco. Ao fazer o “wrong turn“, eles são “atacados” por um tronco de árvore rolante, como uma espécie de Donkey Kong real, resultando na morte de um deles. Perdidos, e com os celulares roubados, eles começam a se sentir observados. Encontram uma placa que aponta o ano de 1859 e envolve a união de um grupo de colonos, intitulados “A Fundação“, que acreditavam que poderiam sobreviver com o fim dos Estados Unidos. Logo, a situação vai se complicar quando eles forem pegos em armadilhas e agirem de maneira descontrolada, culminando em uma passagem por um vilarejo com suas próprias regras e um tribunal.


Não há pessoas deformadas, nem sinais de canibalismo aparente. A repulsa se estabelece pelas máscaras que o grupo utiliza e suas regras de condenação e procriação. O mais próximo da selvageria acontece com aqueles que são mandados para a escuridão, em um cenário bastante desolador, ou para os condenados à morte, com a utilização do mesmo critério do crime cometido. A sensação a todo momento é de insegurança, de vigília, de fazer parte de uma sociedade com suas próprias leis, além da impossibilidade também aparente de uma fuga dali. Ou você abraça o que lhe é imposto ou pode sentir na pele as consequências disso.

Se por um lado, deve-se enaltecer toda essa mudança narrativa em relação ao que a franquia original apresentava, por outro permite que algumas falhas saltem aos olhos. Uma delas é o fato do enredo não mostrar os jovens tentando fugir, o que não deixa transparecer a ideia de fortaleza sem saída. E também o fato deles aceitarem muito fácil as condições impostas, depois que o pai de Jen chega ao local (Matthew Modine). Aliás, este vive uma narrativa própria desde a primeira cena quando ele chega à cidade perguntando sobre a filha desaparecida. Sua jornada investigativa é acompanhada à parte, até que ele consiga as pistas e ajuda necessária para saber o que aconteceu.


Quanto à transformação repentina dos jovens em membros fiéis da Fundação é algo realmente inexplicável, próximo de uma lavagem cerebral. Se pelo menos houvesse um salto narrativo evidente, com um informe de que já passaram dois anos para mais, você até compreenderia. De todo modo, o melhor momento do novo Wrong Turn é reservado para o epílogo, que felizmente acontece quando o espectador já está com uma expressão “sério mesmo?“.


É claro que esse novo filme não teria muitas chances de ser bem aceito. Acostumado com aquele banho de sangue e gore (não se engane pelas imagens desta postagem), atuações exageradas no combate a seres deformados e imortais, você sentirá muito a diferença. E é importante que saiba que a própria expressão “wrong turn” tem muitos significados, sendo um deles o da escolha errada. Assim, é possível que você julgue os realizadores por essa opção de mudar tudo, mas você também tem a sua sobre assistir ou não.



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